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Foco Selvagem e Psicologia Positiva


FOCO SELVAGEM E ARAPUCAS

 *Claudemir Oliveira

Conta a história que toda manhã, quando o sol nasce, uma leoa sabe que deve correr mais que um gnu; toda manhã, quando o sol nasce, um gnu sabe que deve correr mais que uma leoa. É a lei da sobrevivência. Não importa se você é leoa ou gnu, um tem de ser mais rápido que o outro, pois a vida pode estar num pequeno detalhe.

O que essa cena não descreve são as estratégias utlizadas pelos animais, principalmente os felinos. Vou descever apenas uma que se conecta com o mundo corporativo. Estou falando de FOCO. Como escrevi a história de um filme aqui nos Estados Unidos, permita-me descrever a cena. Seca na África. Gnus migram em busca de água. São centenas, milhares. O vento levanta a poeira da terra castigada pelo sol, cobrindo um  céu azulado. Na espreita, uma leoa. Ela apenas observa e se move lentamente, escondida no meio do mato. Aquela pode ser sua única oportunidade de caça naqueles dias. Nada pode dar errado e, para isso, seu foco animal é próximo da perfeição. Segue a cena e os gnus, por instinto, se agrupam, nao se dispersam. A leoa segue com olhar fixo, mas ainda em estágio de observação. É um estudo minucioso, solitário, mas tem de ser rápido e impecável. A vida está em jogo. Ela se aproxima um pouco mais, pois tem de analisar quanta energia tem para o arranque em relação à distância do gnu. A leoa já o escolheu. Foco selvagem aos extremos. O ataque é iminente. Calma, ansioso leitor, há um preaquecimento. Observe os músculos dianteiros: rígidos, tensos. O coração é uma bomba pronta a explodir em décimos de segundos!

Luz, câmera, ação! Já não existe azul no céu. A poeira alaranjada incendeia sua imensidão e o silêncio é invadido por pisadas ensurdecedoras. A leoa planejou, inclusive, a dispersão. Faz parte da estratégia. As câmeras conseguem detectar um momento ímpar de foco. Dezenas de gnus, no desespero, passam quase em frente ou ao lado da leoa, mas ela, na multidão, só enxerga um. Estudou a presa de todos os ângulos e sabe exatamente o que quer.  

Abro um parêntese para falar de um felino menor. O gato usa uma artimanha. Sabe o que ele faz? Mexe o rabo lentamente de um lado para o outro, e na distração de segundos da presa, ele dá o pulo do gato.

Usei analogias para chegar ao corporativo e profissional. Qual é o foco da sua empresa? Existe alguma análise ou ela simplesmente “ataca” o primero “cliente” que aparece na multidão? Ou ataca todos ao mesmo tempo? Devemos ter três habilidades básicas: observar, escolher e atacar, todos sincronizados por um relógio suíço. É como um grande fotógrafo que está sempre buscando uma obra de arte, mas com o dedo pronto para o “click” mortal. Por último, lembre-se que o foco sempre “aumenta” o objeto almejado. Imagine toda sua energia em um sonho de vida.  Ninguém segura. Foco é um “fermento” natural que Física Quântica explica.

Usando outra analogia, imagine um médico. É impossível você ser um excelente cardiologista, oftalmologista, neurologista, ortopedista, etc. Aplique isso numa corporação, na sua carreira. Tentar abraçar o mundo pode não ser a melhor estratégia. Eu, por exemplo, sei que terei meu último suspiro estudando e falando sobre Psicologia Positiva e a relação dessa nova ciência com a vida pessoal de Walt Disney. Foram meus 15 anos mágicos na empresa que me mostraram o lado positivo desse gênio do século passado. Qual é o seu foco profissional? Você já tem algo com o qual seus olhos estão “vidrados”, “sedentos” e “famintos”? Está esperando o que para o ataque?

Uma análise não estaria completa se eu não abordasse o maior desafio que temos: saber o que queremos, onde por o foco. Para mim é fácil dizer que respiro Psicologia Positiva e Disney. Mas nem sempre foi assim. O processo é igual para todos: nossas experiências e aprendizados nos levam ao que tanto merecemos. Tentar é diferente de esperar. Humildade de começar por baixo é outra arte que o ego não alimenta. O elevador do sucesso não existe; eu prefiro as escadas que me levam ao topo. Subidas rápidas, descidas ainda mais rápidas. Ninguém corre antes de engatinhar e caminhar. A arapuca do elevador é deixar espaços vazios no meio da escuridão ascendente. Movi minhas montanhas carregando pedrinha por pedrinha. O Fernando Pessoa construiu seus castelos com pedras do caminho. O mundo “twitter”, Facebook ainda não nos entende. Tenha foco, mas eu permito que você me conte sua belíssima história em mais de 140 caracteres, afinal tenho formação humana antes de psicoterapia. Eu sou do mundo “face2face”, tema de outro artigo que escrevi recentemente.  

Para terminar, ao focar no seu cliente, adapte algumas estratégias da leoa ou do gato, mas não vale artimanha. Pena que muitas empresas usam arapucas em busca de clientes. Ataque com um sorriso, serviço e produto de qualidade e você o terá para sempre. A leoa não tem a mesma sorte. Comeu, acabou. Precisa de outros gnus. O cliente fidelizado será sempre sua “mesa farta”.  E o melhor: você gasta menos energia ($) para conquistá-lo! E melhor ainda: a “presa” quer ser “devorada” por você, e por isso, vem ao seu encontro!

Neste texto, quis homenagear as mulheres executivas, pois na história contada no primeiro parágrafo, usam a palavra “leao”. Mudei para o feminino propositadamente. Eu acredito piamente que estão a frente dos homens na questão sensibilidade, para não dizer inteligência emocional (e quem disse que sensibilidade “materna” não conta, mesmo nesse mundo selvagem?) ; por acreditar numa empresa do futuro mais humana, mais sensível, mais focada nos colaboradores, creio que elas terão papel ainda mais importante nessa belíssima revolução. Somente gente que entende e adora gente pode transformar gente. O resto é arapuca!

* Presidente do Seeds of Dreams Institute, na Flórida (EUA), instituto focado na Psicologia Positiva aplicada às pessoas e às corporações. Jornalista com mestrado e doutorando (EUA) em Psicologia, tem mais de 20 anos de experiência em empresas como American Airlines, United Airlines e Walt Disney Parks & Resorts, onde liderou estratégias de treinamento global e foi professor da Disney University. Vive em Orlando e é membro vitalício da Harvard Medical School Postgraduate Association. Contato: www.seedsofdreams.org.

Comments

  1. Fabio Madia says:

    Claudemir, mais um lindo texto! Sem dúvida nenhum a psicologia positiva é fundamental. Como diz Daniel Pink no seu último livro cujo título é DRIVE, foco, atenção e coração.
    Forte abraço é uma semana incrível.
    Fabio

    • Grande Fábio… obrigado pelo comentário. Pois é meu amigo, “coração” anda meio desaparecido no meio corporativo, por isso deixei o comentário sobre as mulheres comandando esse novo mundo corporativo no final do artigo… devido à espaço da coluna, esqueci de comentar que no mundo animal é a leoa que caça… abraço forte e espero vê-lo quando for ao Brasil!
      P.S. Meu proximo artigo devo falar sobre um tema que voce e seu pai vão amar… falo dos 4Ps, 4Cs e a lacuna que eles deixam no mercado… falo isso porque sei que Madia introduziu novos coneitos exatamente para dizer que os 4Ps nao eram suficientes… abraços

  2. elizabeth says:

    sempre leio com atenção todos seus artigos ! Voce sempre me ensinou muito … eu sou a leoa aqui desta casa… bjo amigo

  3. Almir Gomes Magalhães says:

    Sim, a natureza tem muito a nos ensinar, pena que temos dificuldade em aprender, recentemente gravaram guepardos caçando em equipe; a natureza se adapta, aprende com ela mesma, já nós…, triste.

    • Almir, é isso mesmo.. até na caça eles tem algo a ensinar… eles caçam pela sobrevivência, já a “caça humana” nem sempre é pela sobrevivência, infelizmente.
      Abraços e obrigado!
      Claudemir

  4. Irene Maria Sedda says:

    É verdade. É preciso ter foco e não desviar dele. Você, como sempre, explica as coisas de maneira tão simples e clara, mas que engloba tanta sabedoria.

    • Irene,
      Obrigado pelas palavras. Analogias são fantásticas para se explicar conceitos e eu aprendi com um cara chamado Walt Disney… risos… foram 15 anos,
      então, deu para aprender um pouco sobre “storytelling”…
      abraços,
      Claudemir

  5. Sirlon Moraes says:

    Saudações Claudemir.

    Seus artigos são “Fantásticos” e servem como Escola Real de Vida.
    Obrigado por fazer parte de seus contatos e merecedor de receber suas publicações.
    Um grande amigo abraço.
    Sirlon Moraes.

  6. Acabei de ler mais este lindo artigo de sua lavra. Parabéns pelas lições mencionadas. Apesar da essência instintiva dos personagens (leoa x gnu), é importante captar a bela mensagem, coisa que sempre passa despercebido. Vale lembrar que, apesar da malícia de um e a falta do citado elemento no outro, a mãe natureza consegue manter o equilíbrio do meio ambiente. Já o homem…!!! Abraços.

    • Prezado Abel,
      Obrigado pelos comentários e como sempre termina com chave de ouro ao fazer a análise dos animais (que mantem o equilíbrio) e nós que ainda estamos longe disso… forte abraço e saiba da minha honra em tê-lo lendo minhas colunas de forma tão constante. MUITO obrigado!
      Claudemir

  7. Adriana Arruda Dória says:

    Sempre tento tirar o máximo de cada artigo lido aqui. Estou lendo desde o primeiro até me atualizar de todos. Sem dúvidas tem sido de grande importância na minha vida isso aqui. Esse artigo em especial parece que foi feito pra mim. Sempre com sua sabedoria, que Deus te dê sempre muitas bênçãos. Você ajuda a pessoas tão distante sem nem sonhar a diferença que está fazendo na vida delas. Desde que iniciei minha leitura aqui muitas decisões e mudanças importantes aconteceram na minha vida. Muito obrigada!!

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